segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Casa de Praia

Era uma casa muito engraçada, tinha teto e paredes todas pintadas, quase um carnaval, até o banheiro foi colorido.

Ninguém podia entrar nela não, porque em alguns feriados a casa lota tanto que chegam a ter 30 pessoas onde cabem 6!

Ninguém podia dormir na rede, por causa dos mosquitos assassinos. Sem falar que a maioria dos veranistas não dormem, só farream.

Ninguém podia fazer pipi, porque faltou luz, e daí o motor não puxa água do poço pra descarga

Mas era feito com muito esmero; Um cantinho que todos amam, e não passam um verão sem habitar. O local onde os primos distantes se veem, onde as tias trocam toalhas, onde cada café da manhã são comidos 25 pães e um baralho de cartas é pouco pra um fim de tarde relaxante;

É o local onde os celulares ficam todos esquecidos sobre a estante da TV, os tênis ficam jogados sob a cama aguardando o dia de voltar pra capital, e a bola de futebol nunca para, nem mesmo no almoço...

Na Rua..
General Artigas 189;
Duarte da Costa 603;

Ou em qualquer outro endereço onde o vento do litoral nunca para e areia queimando a sola do pé é motivo de diversão!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O espelho

Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata. Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:


- Mas o que é que o retrato do meu pai está fazendo aqui?
- Isso é um espelho – explicou o dono da loja.
- Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.
Os olhos do homem ficaram molhados.
- O senhor...conheceu meu?! – perguntou ele ao comerciante.
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.
- É não! Respondeu o outro. – Isso é o retrato de meu. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito.

O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho.

Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.

A mulher ficou só olhando.

No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando..

- Ah, meu Deus! – gritava ela desnorteada. – É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!

Quando o homem voltou, no fim dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.

- Que foi isso, mulher?- Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?
- Que retrato? – perguntou o marido, surpreso.
- Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!

O homem não estava entendendo nada.
- Mas aquilo é o retrato de meu pai!

Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:- Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
A discussão fervia feito água na chaleira.

- Velho lazarento coisa nenhuma! – gritou o homem, ofendido.
A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais votar pra casa.
- Que é isso, menina?
- Aquele cafajeste arranjou outra!
- Ela ficou maluca – berrou o homem, de cara amarrada.
- Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá no quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Ta lá! É o retrato de outra mulher!

A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato.
Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos de novo. Soltou uma sonora gargalhada.

- Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje.
E completou, feliz, abraçando a filha:- Fica tranqüila. A bruaca do retrato já está com os pés na cova!


Conto popular chinês

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Highway

Os dias são apenas números, as marcas são substituídas cada vez mais por séries de números, e o que eu mais temia aconteceu: virei só mais um número. Ou talvez tenha sido pior, talvez eu nem tenha entrado na tua conta.

Cada vez mais as horas, os dias e os números passam e eu não posso fazer nada. Ninguém pode. Talvez eu não faria por mais que pudesse. Me acostumo fácil a me acostumar com as coisas.

Ninguém por perto, silêncio no deserto. Deserta Highway.

Adianta mesmo ser livre? Humberto Gessinger disse que não. É claro que ele pode “estar completamente enganado”, então ficamos com mais uma dúvida. É inútil ter certeza. É inútil ser como eu sou, sentar e conviver com a tristeza acreditando que a felicidade está muito longe para correr atrás. É inútil ser como você é, correr e correr só pra se perder.

Como ficar no meio termo?

Arrume uma resposta.

Corra atrás dela.

Ou fique sentado infeliz.

É a lei da Highway.

. . . . .

texto retirado de 'Aprenda a nadar.'

por @roselobell

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Este texto é sobre cortar as unhas...

É sobre cortar gastos,
Cortar desejos possíveis que não emocionam a vida.

Cortar o fio do ventilador, E abrir a janela pra deixar o vento do mundo entrar.

Cortar a operadora de celular, que te oferece conversar por torpedos,
Ao invés de falar pessoalmente.

Cortar da sua seleção de músicas, novidades intediantes que todos escutam,
E selecionar velhas canções que te fazem lembrar os melhores momentos da sua vida.

É sobre cortar os sucos de abacaxi,
E tomar mais Coca-Cola, sem se preocupar se fazem mal para os ossos.

É sobre cortar a sua mãe! Ops.. A mãe não!!!

É sobre cortar as pernas da sua calça, pra deixar as pernas livres ao vento, É sobre cortar as mangas da sua camiseta pra deixar as axilas expostas pro mundo.

É tambem sobre não cortar as unhas pra arranhar alguém na hora do sexo,
É sobre cortar o regime e não cortar as gorduras,
É sobre cortar as coisas que te fazem comum.



...antes que o cara lá de cima perceba que tu não anda aproveitando bem a vida, e resolva te tirar daqui.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um eu lírico

Se eu sento na poltrona sob o ventilador de pernas cruzadas
Se me escoro na janela pra assistir a chuva cair
Se arranho na cruzadinha da Zero Hora
Se ouço Beatles, Wonders e Beach Boys
Se viajo de metrô lendo quaisquer livro
Se me interesso pelo Jornal Nacional
Se me divirto com o Programa do Jô
Se odeio o Big Brother


Só porque não prefiro o Orkut
E gosto de filmes clássicos


Se me sinto bem na rua acompanhado de uma noite quente
Se telefones celulares me anojam
Se eu não piso em formigas sem motivo
Se eu gosto do inverno, edredons e chocolate quente
Se eu sei que o ovo veio antes que a galinha


Nada!

Nada disso me torna mais inteligênte
Nada disso me torna melhor que ninguém;


Apenas pior;
Quando o café termina.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Meu primeiro abraço quente


Não faz nem dez minutos, estava eu sob o chuveiro e sobre o tapete de borracha quadriculado e encardido de banheiro. Sem motivo veio a minha cabeça automaticamente, talvéz a minha primeira lembrança de um tapete de borracha quadriculado e encardido de banheiro me causando marcas embaixo dos pés;

Era inverno e eu me tremia inteirinho no chuveiro da casa da minha vó lá no Partenon naquela fria noite de julho de 2001, porém o frio e o tapetinho não diminuiam em nada a felicidade que eu sentia. Tinha vindo de talvéz a melhor e mais épica tarde da minha vida até aquele momento e talvéz até hoje.

Melhor que meu primeiro beijo, minha primeiro transa, a primeira vez que joguei videogame, o dia em que meu time foi campeão do Mundo, o dia que conheci Florianopolis, enfim...


Eu estudava na Escola Nossa Senhora do Brasil desde a 1ª serie, e estava na 6ª serie, era o ano que me despedia dos amigos, pois em 2002 viria morar onde moro hoje. Todos ficariam e só eu estava saindo, era o clima de fim de festa no meio dos outros que continuariam suas vidas normalmente até a 8ª.

Como todo inverno no Nossa Senhora, ocorriam os 'Jogos de Inverno'
Em 2000 tinhamos vencido os Jogos de Inverno (leia-se somente Futsal) com "épicas" atuações minhas nos 4 jogos, a medalha de ouro e as colegas todas gritando nossos nomes nas arquibancadas do ginásio de esportes. Eu não pensava em mais nada desde março de 2001, à não ser vencer mais uma vez o torneio e ir embora bi-campeão (lembrei dessa história também quando conheci o Mazembe).

Os principais adversário era a turma 62, vice-campeões do ano passado, porém na semi-final veio um trágico 2x0 que nos tirou da final, e assim como nós a 62 perdeu também.
Quis o destino que o ultimo jogo da minha vida no ginásio de esportes do Nossa Senhora do Brasil fosse contra eles, e mais: o time do Lucas.

Ele gostava da Marcelle e a Marcelle gostava dele.
Como que ela gostava dele se ele era de outra turma? Não tem lógica!
Eu morria de ciúmes e queria fazer de tudo pra ela me notasse apenas uma vez antes de nunca mais à ver.

Com coragem tirada de onde eu nunca mais achei, pedi dinheiro dois dias antes pra comprar uma camiseta toda branca da lojinha da praça. Escrevi em letras grandes e bonitas (sempre tive letra bonita e não sou gay) o nome dela: 'Marcelle'.

Nunca fui de jogar bem, era um mero coadjuvante no time do Matheus, Leonardo, Anderson, e o Pedro. E nunca vou conseguir explicar como fiz aquilo. Três gols. 3x0. E a coragem de mostrar o nome dela na camisa só veio no terceiro gol!

Eu e ela nunca fomos próximos, mas eu nunca vou esquecer o abraço quente que eu recebi aos 11 anos de uma das gurias mais lindas que eu já conheci. Cabelinho escuro, pele branquinha, olho claro, batom rosa e buchecha maquiada, o abraço de quem nunca tinha feito algo assim pra ela. Ficamos amigos até dezembro e ela continuo gostando do Lucas. Eu guardei aquela camiseta com uma manchinha do baton rosa dela no ombro, de quando baixou a cabeça e encostou em mim.

Desde então nunca mais a vi, mas me lembro como se fosse hoje, em cada vez que piso em um
tapete de borracha quadriculado e encardido de banheiro.